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Novas Arenas e o pós-Copa 2014

Quando se decide construir uma arena esportiva em determinado lugar, a primeira pergunta que se faz é: quem vai utilizar este equipamento?

Início do Século XXI, Portugal vivia um boom econômico sem precedentes, e iria sediar a Eurocopa 2004. Sem utilizar-se de experiências anteriores, e por decisão meramente política, o país realizou a competição em oito cidades, construindo ou reformando dez estádios, a um custo de 1,1 bilhão de euros.

Ergueram-se gigantes em lugares que sequer possuíam times de futebol, ou se os tinha, estavam fadados às divisões inferiores. Quase uma década depois, e em meio a uma grave crise financeira o país se vê obrigado a estudar a possibilidade de demolição de alguns dos estádios, por não ter como efetuar a sua manutenção, a cargo das prefeituras das cidades aonde se localizam.

Citando exemplos, em Leiria, o time local o União Leiria tem uma média de público em torno de 800 pessoas por jogo. Caiu para a terceira divisão e resolveu abandonar o estádio devido aos altos custos para se jogar nele chegando até serem maiores que os salários dos jogadores do time.

O caso do Estádio do Faro-Loulé, é emblemático. A localidade sequer tem time de futebol profissional, e o estádio que custou 60 milhões de Euros deve fechar o ano de 2013 com um prejuízo para as prefeituras das duas localidades de 600 mil euros.

No Brasil, decisão também política e não técnica escolheu como sede dos jogos da Copa 2014 cidades que possuem times na terceira ou quarta divisão do Campeonato brasileiro, e com média de público de 200 até 1.000 pessoas no máximo.

Quando se decide construir uma Arena, segundo a lição do Mestre Ricardo Araújo, professor do Curso Gestão de Arenas da Trevisan SP, a primeira pergunta que se faz é “quem vai utilizar o equipamento?”, seguida de uma pesquisa sobre os hábitos da torcida do time que irá utilizar-se dele.

Diante destes dados, é que se projeta a quantidade de público médio e o mínimo de jogos a serem realizados no estádio por ano, verificando a viabilidade ou não de se construir naquela localidade.

O que se fez no Brasil foi construir diversos estádios que não terão utilidade após a Copa de 2014. Cidades como Cuiabá, Manaus e Brasília não tem utilizador para os equipamentos construídos e nem os terá em médio prazo.

Com relação ao Estádio de Brasília, quando deixar de ser novidade e os times do Rio de Janeiro acertarem com o consórcio que detém a concessão do Maracanã, voltará a viver dos jogos do Campeonato Brasiliense e Séries C e D do Brasileiro, com as ridículas médias de públicos que os times locais sempre tiveram.

Verifiquei na fala de alguns políticos e administradores públicos um pouco de desconhecimento ao falar dos shows e eventos que poderão ser realizados nestes locais. Ora, evento e show é receita adicional em uma arena esportiva, que deve, necessariamente, sobreviver de sua atividade esportiva, do jogo de futebol e do seu entorno.

Dizer que vai auferir lucro em uma Arena de quase R$ 1 bilhão (em alguns casos ultrapassaram esse limite) com shows e eventos, é brincar com a inteligência do cidadão brasileiro.

Importante salientar que dois dos melhores projetos de Arenas Esportivas no país, a Arena Grêmio, e o Alianz Parque do Palmeiras, ficaram ao largo da Copa do Mundo, mesmo sendo estádios dentro do que se propôs quando a Copa foi conquistada pelo país: estádios construídos com a parceria da iniciativa privada, sem dinheiro público.

Se a escolha das cidades fosse feita por questões técnicas, teríamos 8 sedes assim distribuídas: Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba ou Florianópolis, Porto Alegre, Recife ou Salvador, Goiânia e Belém. Cidades que têm utilizadores para os equipamentos construídos, sendo que Belém, mesmo não figurando na Série A do Brasileiro, possui recordes de público nos jogos dos dois principais clubes, Paysandu e Remo.

O cenário que se avizinha, nos próximos anos, em que a economia já não vai tão bem quanto no ano que conquistamos o direito de realizar a Copa no Brasil, é de total abandono destes aparelhos esportivos caríssimos, e devemos torcer muito para que depois de uma década, não sejamos obrigados a pensar como os portugueses a demolir essas arenas para darem menos prejuízo do que se ficarem de pé.

O problema é que torcida deve ficar somente com o time durante as partidas. A questão da construção de Arenas passa pelo planejamento que infelizmente não tivemos no País da Copa 2014.

* Diretor da FRT Consultoria Esportiva Ltda, especialista em Gestão e Marketing Esportivo e aluno da especialização em Gestão de Arenas

Veja matéria na íntegra: http://universidadedofutebol.com.br/Artigo/15588/Novas-Arenas-e-o-pos-Copa-2014